quarta-feira, 12 de março de 2014

Educação Escolar de Pessoas com Surdez - Atendimento Educacional Especializado em Construção


Gelcilene Vasques Nunes Galucio¹

                 Quando nos referimos a pessoa com surdez, estamos nos referindo a um ser biopsicossocial, cognitivo e cultural, capaz de produzir e adquirir conhecimentos. É dessa forma que família, sociedade e escola precisam enxergar essas pessoas. Como seres capazes de desenvolver suas potencialidades dentro e fora do ambiente de aprendizagem, conforme nos lembra de Damázio e Ferreira (2009, p.08) 
                 O AEE torna-se, então, uma possibilidade de ambiente viável à aprendizagem da língua de sinais, tendo em vista que ele serve a um público específico, e não tem as burocracias e entraves técnico-administrativos geralmente encontrados no cotidiano das escolas regulares. Damázio (2007, p. 14) continua orientando que:
 “A inclusão de pessoas com surdez na escola comum requer que se busquem meios para beneficiar sua participação e aprendizagem tanta na sala de aula como no Atendimento Educacional Especializado”. 
                 Sendo assim, o AEE cumpre seu papel enquanto espaço de promoção das condições de acesso, participação plena e aprendizagem no ensino regular. Além disso, ele objetiva também fomentar a produção e uso de recursos didático-pedagógicos que desfaçam as barreiras epistemológicas do aluno, garantindo a continuidade de seus estudos nos demais níveis de ensino. Vale a pena ainda ressaltar que, se a escola regular não tem apresentado as condições normais necessárias para o desenvolvimento global do aluno com surdez, o AEE suplementa a carência de linguagem desse aluno em termos de aquisição como primeira língua. 
                Para entendermos esse processo de ensino-aprendizagem de LIBRAS no AEE, consideraremos primeiramente o que nos diz Damázio (2007, p. 13):
As pessoas com surdez enfrentam inúmeros entraves para participar da educação escolar, decorrentes da perda da audição e da forma como se estruturam as propostas educacionais das escolas. Muitos alunos com surdez podem ser prejudicados pela falta de estímulos adequados ao seu potencial cognitivo, sócio afetivo, linguístico e político-cultural e ter perdas consideráveis no desenvolvimento da aprendizagem. 
                 Sendo assim, não adianta garantir o acesso do aluno com surdez ao sistema regular de ensino, se esses prejuízos de que nos fala Damázio não forem levados em consideração. Tem que haver, assim, um espaço de aprendizagem no qual esses estímulos estejam no cerne do trabalho pedagógico.
                 As propostas mais recentes de ensino de LIBRAS no AEE têm-se apoiado teórico e metodologicamente nesta última abordagem, a bilíngue. Nesses termos, o documento do Ministério da Educação intitulado Abordagem Bilíngue na Escolarização de Pessoas com Surdez, lançado em 2010 como parte integrante das publicações da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
                Estudos têm demonstrado que esta abordagem corresponde melhor às necessidades dos alunos com surdez, em virtude de respeitar a língua natural e construir um ambiente propício para sua aprendizagem escolar.  Damázio (2007, p.25) argumenta que o trabalho pedagógico de ensino de LIBRAS no AEE para alunos com surdez deve acontecer em um ambiente bilíngue, ou seja, lugar em que se utilizem a língua de sinais e a língua portuguesa, e que se organiza em dois momentos didático-pedagógicos bem distintos:
O Atendimento Educacional Especializado para o ensino em LIBRAS, “em que todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares são explicados em LIBRAS por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo” e o Atendimento Educacional Especializado para o ensino de LIBRAS, no qual os alunos com surdez terão aula de LIBRAS, favorecendo o conhecimento e a aquisição principalmente de termos científicos.
                Este trabalho é realizado pelo professor e/ou instrutor de LIBRAS (preferencialmente surdo), de acordo com o estágio do desenvolvimento da Língua de Sinais em que o aluno se encontra.
               Com vistas a essa divisão na organização do trabalho de ensino de LIBRAS a alunos com surdez, percebe-se o quanto é desafiador incluir esse aluno na escola regular despreparada, que mais se adequa aos padrões excludentes da sociedade do que se abre a uma educação que verdadeiramente valorize a diversidade e promova o crescimento humano igualitário de todos que dela participem.

REFERÊNCIA:
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo; FERREIRA, Josimário de Paula. Educação Escolar de Pessoas com Surdez - Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p. 46-57.