Gelcilene Vasques Nunes Galucio¹
Quando nos
referimos a pessoa com surdez, estamos nos referindo a um ser biopsicossocial,
cognitivo e cultural, capaz de produzir e adquirir conhecimentos. É dessa forma
que família, sociedade e escola precisam enxergar essas pessoas. Como seres
capazes de desenvolver suas potencialidades dentro e fora do ambiente de
aprendizagem, conforme nos lembra de Damázio e Ferreira (2009, p.08)
O
AEE torna-se, então, uma possibilidade de ambiente viável à aprendizagem da
língua de sinais, tendo em vista que ele serve a um público específico, e não
tem as burocracias e entraves técnico-administrativos geralmente encontrados no
cotidiano das escolas regulares. Damázio (2007, p. 14) continua orientando que:
“A inclusão de pessoas com surdez na escola
comum requer que se busquem meios para beneficiar sua participação e
aprendizagem tanta na sala de aula como no Atendimento Educacional
Especializado”.
Sendo
assim, o AEE cumpre seu papel enquanto espaço de promoção das condições de
acesso, participação plena e aprendizagem no ensino regular. Além disso, ele
objetiva também fomentar a produção e uso de recursos didático-pedagógicos que
desfaçam as barreiras epistemológicas do aluno, garantindo a continuidade de
seus estudos nos demais níveis de ensino. Vale a pena ainda ressaltar que, se a
escola regular não tem apresentado as condições normais necessárias para o
desenvolvimento global do aluno com surdez, o AEE suplementa a carência de
linguagem desse aluno em termos de aquisição como primeira língua.
Para entendermos esse processo de
ensino-aprendizagem de LIBRAS no AEE, consideraremos primeiramente o que nos
diz Damázio (2007, p. 13):
As
pessoas com surdez enfrentam inúmeros entraves para participar da educação
escolar, decorrentes da perda da audição e da forma como se estruturam as
propostas educacionais das escolas. Muitos alunos com surdez podem ser
prejudicados pela falta de estímulos adequados ao seu potencial cognitivo,
sócio afetivo, linguístico e político-cultural e ter perdas consideráveis no
desenvolvimento da aprendizagem.
Sendo assim, não
adianta garantir o acesso do aluno com surdez ao sistema regular de ensino, se
esses prejuízos de que nos fala Damázio não forem levados em consideração. Tem
que haver, assim, um espaço de aprendizagem no qual esses estímulos estejam no
cerne do trabalho pedagógico.
As propostas mais recentes de ensino de
LIBRAS no AEE têm-se apoiado teórico e metodologicamente nesta última
abordagem, a bilíngue. Nesses termos, o documento do Ministério da Educação
intitulado Abordagem Bilíngue na Escolarização de Pessoas com Surdez, lançado
em 2010 como parte integrante das publicações da Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
Estudos têm demonstrado que esta abordagem
corresponde melhor às necessidades dos alunos com surdez, em virtude de
respeitar a língua natural e construir um ambiente propício para sua aprendizagem
escolar. Damázio (2007, p.25) argumenta
que o trabalho pedagógico de ensino de LIBRAS no AEE para alunos com surdez
deve acontecer em um ambiente bilíngue, ou seja, lugar em que se utilizem a
língua de sinais e a língua portuguesa, e que se organiza em dois momentos
didático-pedagógicos bem distintos:
O
Atendimento Educacional Especializado para o ensino em LIBRAS, “em que todos os
conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares são explicados em LIBRAS
por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo” e o Atendimento
Educacional Especializado para o ensino de LIBRAS, no qual os alunos com surdez
terão aula de LIBRAS, favorecendo o conhecimento e a aquisição principalmente
de termos científicos.
Este
trabalho é realizado pelo professor e/ou instrutor de LIBRAS (preferencialmente
surdo), de acordo com o estágio do desenvolvimento da Língua de Sinais em que o
aluno se encontra.
Com
vistas a essa divisão na organização do trabalho de ensino de LIBRAS a alunos
com surdez, percebe-se o quanto é desafiador incluir esse aluno na escola regular
despreparada, que mais se adequa aos padrões excludentes da sociedade do que se
abre a uma educação que verdadeiramente valorize a diversidade e promova o
crescimento humano igualitário de todos que dela participem.
REFERÊNCIA:
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira
Macedo; FERREIRA, Josimário de Paula. Educação Escolar de Pessoas com Surdez -
Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão:
Brasília: MEC, V.5, 2010. p. 46-57.