segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Audiodescrição e descrição


               A técnica de áudio-descrição envolve a acessibilidade aos elementos visuais do teatro, televisão, cinema e outras formas de arte para pessoas cegas, com baixa visão, ou qualquer outra deficiência visual. É um serviço de narração que tenta descrever aquilo que está disponível ao vidente, e é oferecido sem custo adicional ao espectador com deficiência visual - aquelas imagens que uma pessoa que é cega, ou com deficiência visual, antes só podia ter acesso por meio dos sussurros de um colega vidente.
            A áudio-descrição vem então preencher uma lacuna para o público com deficiência visual. Como um processo de linguagem, a descrição visual pode ser vista como um membro da família das atividades de tradução e interpretação. De acordo com Metzger (1999), ‘Tanto a tradução e a interpretação lidam com a comunicação de um dado texto para outra linguagem’. Uma questão-chave aqui é que o texto que está sendo comunicado é composto de elementos visuais (cenas, sinais, sorrisos, etc.) em vez de linguagem formalizada. Se tradução é o que acontece quando o escrito é convertido para o escrito e interpretação quando o conversacional é convertido em conversacional (HATIM, 1997), então a descrição visual pode ser vista como transrepresentação porque toma as informações visuais cruas e as converte em linguagem.
O uso pedagógico da atividade da audiodescrição que se segue, implica:
• Proporcionar que alunos com Deficiência Visual tenham acesso aos conteúdos escolares, no mesmo tempo em que o restante da turma;
• Minimizar ou eliminar as barreiras presentes nos meios de comunicação que se interponham ao acesso à educação, tais como aquelas presentes no acesso a materiais bibliográficos, imagens e vídeos;
• Favorecer o acesso a atividades lúdicas como as histórias em quadrinhos, visando trabalhar conceitos, personagens, compreensão, interpretação e produção textual através das descrições.
            O professor inclusivo poderá lançar mão dos recursos de acessibilidade disponíveis, promovendo oportunidades para a eliminação de barreiras atitudinais entre os alunos, através do estímulo de atividades coletivas de áudio-descrição que envolva a todos, sensibilizando-os e dando-lhes autonomia para também desenvolverem e se beneficiarem do recurso em conjunto.
            Em um exercício (acerca da força da gravidade, extraído de um livro de Ciências da 2ª.). Série do Ensino Fundamental, Descobrindo o Ambiente (1991), página 31, encontramos as figuras abaixo (Fig.1; Fig.2) sem nenhuma áudio-descrição:

“Qual das ilustrações representa o cesto que exige mais esforço para ser carregado?”


Fig. 1                                   Fig. 2
                
                        

 
Fig. 1 Menina carregando cesto de flores.                
Fig. 2 Menino carregando cesto de frutas.
             
           A pergunta óbvia a se fazer é: como poderá o aluno com deficiência visual responder a esta questão sem que lhe seja oferecida a áudio-descrição das imagens, visto que ela é crucial para a compreensão do que é pedido no exercício?
            Sequer foi ofertada legenda como pista para as imagens.
            Consideremos, agora, essa atividade com a oferta de áudio-descrição.
            “Qual das ilustrações representa o cesto que exige mais esforço para ser carregado?”
- Figura da esquerda em que uma menina carrega sorridente um cesto de flores. 
- Figura da direita em que um menino com boca contorcida carrega um cesto de frutas.
            Alguns estudiosos preferem relatar primeiro as imagens e depois o texto. Porém, na opinião de alguns alunos com deficiência visual, eles compreendem melhor se o texto for lido antes da descrição das cenas. O professor deve, contudo, combinar com o ouvinte o que ele prefere.
            Podemos concluir enfatizando a importância/necessidade da oferta da áudio-descrição nos livros didáticos, não só para ganho dos alunos com deficiência visual, mas para todos que desses livros vão fazer uso, incluindo os próprios professores.